Na Bibliotheca Pública Pelotense, que esteve comemorando 136 anos,
escritor Fernando Morais participou de “Conversa sobre livros”
escritor Fernando Morais participou de “Conversa sobre livros”
Ele desembarca em Havana com aparelho de tevê para a namorada. Ainda no aeroporto é preso pela polícia cubana. Como motivo, o transporte de quatro quilos de explosivos dentro da tevê. Noutro episódio, visitante também é preso na chegada à ilha. Embora calçasse 41 estava usando sapato 44. Como causa à prisão, o explosivo plástico que estava acondicionado no bico do calçado. As prisões, evitando ações terroristas, foram possíveis devido a informações da “Rede Vespa” – agentes cubanos infiltrados em grupos de exilados de extrema direita, estabelecidos na Flórida. Fatos relatados pelo jornalista e escritor Fernando Morais que, em novembro, participou do projeto “Conversa sobre livros”. No salão nobre da Bibliotheca Pública Pelotense (BPP) – iniciativa em conjunto com o Instituto Mário Alves (IMA) -, durante quase duas horas, o autor de sucessos como “A Ilha”, “Olga”, “Chatô – o Rei do Brasil” e “O Mago”, falou sobre Cuba, imprensa, as novas tecnologias, livros adaptados para cinema, e autografou “Os últimos soldados da Guerra Fria” (416 páginas), publicação da Cia. das Letras.
DIÁSPORA AGRESSIVA – O autor contou sobre a origem do livro. Em 1998 estava num táxi em São Paulo, em meio a extenso engarrafamento, quando ouviu no rádio que agentes cubanos haviam sido presos pelo FBI nos EUA. O “faro” jornalístico, como acrescentou, motivou a busca pela história. Numa primeira tentativa de acesso aos dados e documentos, ouviu de autoridades cubanas que se tratava de “informação sensível”. Em 2005, participando de uma Bienal do Livro em Cuba, quando já estava com voo marcado de retorno ao Brasil, soube que o material havia sido liberado. “Naquele momento estava no meio da biografia de Paulo Coelho, e expliquei que não seria possível. Então pedi que guardassem o material. Eles foram fiéis e três anos depois procurei pela história. Em 2008 entreguei os originais da biografia e fui para lá. Durante quase dois anos tive de realizar quinze viagens, indo a Havana, Miami e Nova York”, explica. Contextualizando, o escritor mencionou a crise cubana com o fim da União Soviética. “O PIB desabou da noite para o dia, os acordos perderam a validade. Como salvação, o turismo possibilitando a chegada imediata de recursos. Com isso, o dinossauro sai do coma e a economia se restabelece. Porém, na Flórida reside um milhão de cubanos. Os exilados formam uma diáspora agressiva, formada por torturadores, proxenetas, também aqueles que tiveram indústrias expropriadas sem qualquer indenização, e até alguns que divergem de forma ‘consciente’. Eles decidiram que o turismo deveria ser atacado. E foram contratando mercenários para minar o ‘boom’ econômico, com ataques a aviões, casas de espetáculos, vans e hotéis”, ressaltou Morais.
RESISTÊNCIA – 14 agentes cubanos, integrando a “Rede Vespa”, foram infiltrados entre os grupos de exilados. Doze homens e duas mulheres, que não se conheciam nem sabiam sobre as missões. Entre eles, diplomata e oficiais militares. Para legitimar a chegada a Miami, protagonizavam deserções como o abandono de missão diplomática ou fuga em avião militar. Nos EUA eram ovacionados, e a imprensa dos exilados estampava que a revolução havia acabado. O aspecto dramático, disse Morais, é que nem as famílias dos agentes sabiam sobre o trabalho. Assim, familiares eram apontados na rua. Os filhos ouviam que o pai era traidor. O orçamento da Rede Vespa era de apenas duzentos mil dólares, portanto muito aquém do glamour de filmes como James Bond. Na Flórida, os agentes residiam em quitinetes e tinham de trabalhar. Como curiosidade, um ex-comandante de coluna com blindados na Guerra de Angola que, em Miami, ensinava salsa à comunidade gay. Outro comandante de jato da força aérea cubana, transformou-se em personal trainer de milionários, trabalhando nos bairros chiques. Um dos agentes, para reforçar a fachada, chegou a casar nos EUA.
OVO DA SERPENTE – Entre os trinta mil documentos e informações enviados pelos agentes cubanos, estavam as indicações sobre os mercenários com explosivos na tevê e calçados. Pouco tempo depois, numa operação da Swat durante a madrugada, houve a prisão de dez agentes. Escaparam três que não estavam em casa, e um que conseguiu voltar à ilha. Do grupo preso, cinco beneficiaram-se da “delação premiada”. Os outros cinco resistiram, sendo que quatro receberam prisão perpétua. Num caso, disse Morais, a condenação foi de duas prisões perpetuas e mais quinze anos. “Como não havia canal de contato entre Cuba e os EUA, Fidel contou com o Nobel de literatura Garcia Marquez. O escritor colombiano estava em Cuba, reunindo anotações para escrever artigo sobre a visita do Papa. Como posteriormente iria participar de evento em Princepton nos EUA, Fidel solicitou que entregasse dossiê ao então presidente Clinton. Ali constavam nomes, endereços e descrição dos terroristas que estavam financiando atentados. O último parágrafo, escrito por Fidel, chega a ser profético. Alertava que a desenvoltura de ação dos grupos, no momento ameaçava Cuba, mas no futuro poderia ser problema para os americanos. Isto aconteceu três anos antes dos atentados de 11 de setembro. E na Flórida é que estavam os terroristas da Al Qaeda. Ali aprenderam a lidar com explosivos e pilotar aviões. Consegui inserir no livro esse trecho de Fidel. Mas antes tive de pedir ajuda para Frei Betto, Ricardo Kotscho e até Hugo Chávez, pois não era simples o acesso ao dossiê”, mencionou. Morais acrescenta que os agentes cubanos receberam a solidariedade de afro-descendentes nas prisões americanas. Como Cuba havia lutado em Angola, contra o então Apartheid e inimigos patrocinados pela Cia., os afro-americanos – maioria nas prisões -, reconheceram o povo que apoiou negros na África. No livro também consta longa entrevista com ‘mercenário’ preso em Havana. Para o contato, Morais também recorreu ao apoio de nomes como Chávez. No relato do mercenário, a revelação de que não se dispôs ao risco, pelo valor de 1.500 dólares, tampouco convicção ideológica. A motivação é que havia assistido a filmes de Sylvester Stallone; daí procurou reproduzir a violência da ficção.
FBI – Para informações nos EUA, apoio de jornalista do New York Times. O jornalista americano havia feito reportagens sobre os grupos de exilados cubanos da Flórida. Como retaliação, casa havia sido metralhada, os freios do carro foram cortados – ocasionou acidente -, e recebeu telefonemas com ameaças. O FBI também colaborou com o autor brasileiro, porém as declarações ficaram em “off”.
CUBA – Morais ouve que é “fóssil”, que Cuba não deu certo, enfim, as críticas recorrentes. Ele reconhece que há “problemas, sendo necessário corrigir erros”, mas rebate citando frase de João Paulo II, que está quase apagada num outdoor perto do aeroporto José Martí em Havana: “Nessa noite duzentas milhões de crianças vão dormir na rua, nenhuma delas é cubana”. E o autor destaca o recente desempenho no Pan-Americano. Mesmo há décadas sofrendo pesado bloqueio econômico, o que acarreta inúmeras limitações, atletas cubanos ficaram atrás – ranking de medalhas – apenas dos EUA. Além disso, destaca a solidariedade dos 22 mil médicos cubanos que estão na Venezuela, residindo em favelas. Morais frisa que não há analfabetos e o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), é comparável a países desenvolvidos. A exemplo, 4,5 óbitos a cada mil nascimentos. No Brasil é 22 a cada mil, nos EUA são oito. Conforme a UNESCO, da fronteira sul dos EUA até Pólo Sul, somente Cuba eliminou a desnutrição infantil. Recentemente Cuba permitiu a compra e venda de imóveis, limitando ao máximo de duas propriedades a cada cidadão.
Imprensa, livros, Internet e filmes
Fernando Morais respondeu várias questões do público. Em relação ao jornalismo: “A imprensa virou partido político. A exemplo, discrepâncias como tratar Médici – provavelmente o mais violento líder político da história brasileira -, como ex-presidente, enquanto Hugo Chávez é chamado de ditador. E Chávez, no entanto, tem sido reeleito nas urnas pela maioria do povo venezuelano. Mas lentamente, com o aumento de cursos universitários no País, tem aumentado o senso crítico da população. O que gosto de frisar em relação à imprensa, é que a honestidade é que costuma dar certo”. E comparou o Brasil com os EUA. Enquanto no Brasil, mesmo grupo pode ser proprietário de jornal impresso e veículos eletrônicos, nos EUA isto não é permitido. Outra comparação, refere-se à programação em “rede”. Para o jornalista, no Brasil as redes baseiam-se no “Morumbi way of life ou Ipanema of lyfe”, desconsiderando as peculiaridades do País. Já nos EUA, 80% da programação de uma rede deve ser regional. Como jornalista, Morais já realizou três entrevistas com Fidel Castro.
LIVROS – Há trinta anos, Morais vive de direito autoral. Dos dez livros publicados, seis estão comercializados para cinema. Sua meta é consolidar carreira internacional. Assim, livro “A Ilha” foi publicado em quatro países. “Olga” está em vinte países. Já “O Mago” chegou a 41 países. Nos planos, biografia de Antônio Carlos Magalhães (ACM). O autor disse que não tem pressa para publicar, pois durante nove anos realizou entrevistas com o líder baiano. Trata-se de material exclusivo. Com Lula, esta negociando a possibilidade de uma biografia. Outra possível publicação seria a biografia de Darcy Ribeiro. Durante dois anos, quando Morais foi secretário da Cultura de São Paulo, conviveu diretamente com o antropólogo. Darcy Ribeiro concebeu o Memorial da América Latina, posteriormente desenhado por Niemeyer. Na pauta também livro sobre o possível assassinato do ex-presidente João Goulart. Ex-agente da polícia uruguaia, preso em Charqueadas, garante que a morte foi ação da então Operação Condor.
INTERNET – “É a maior revolução da humanidade, e está apenas no começo. Hoje, qualquer um tendo computador e celular, pode virar Roberto Marinho. Divulga material e ainda vende espaço. Na Internet, a vantagem é a imagem em movimento. Como exemplo, a morte de Khadaffi. As imagens de um celular foram disputadas pelas grandes redes. O futuro do impresso será a opinião e grandes reportagens, elaboradas durante dois meses”, afirmou. Em Macaé no Rio de Janeiro, o sistema Wi-Fi é oferecido a toda cidade. Logo essa disponibilidade de acesso à Internet, estará em todo País.
CINEMA – Investidor paulista adquiriu direitos do livro “Os últimos soldados da Guerra Fria”. Ainda é prematuro mas há chance de Oliver Stone dirigir o filme. Como dica, Morais recomenda documentários de Michel Moore. “Não sou anti-americano, mas ele mostra que o capitalismo só é bom para quem tem dinheiro. É o que eles chamam de oportunidades”, conclui.
Falas na abertura
Lauro Borges (IMA), e João Alberto (BPP), manifestaram-se na abertura da “Conversa sobre livros” no sábado. Na sequência, jornalista Pablo Rodrigues ressaltou que a Feira do Livro deve oferecer espaço ao debate. E frisou o quanto a abordagem dos autores, é capaz de marcar o público. Professora Maria de Fátima Ribeiro, diretora da Campus da Unipampa em Jaguarão, abordou sobre a “Carta da Fronteira”, que visa aproximar culturalmente Brasil e Uruguai. Já o prof. Gilnei Oleiro (IF-Sul), lembrou da Feira do Livro de 2000, quando houve agenda de debates, reunindo autores. Também citou a enigmática “Estética do Frio” – teoria cuja validade talvez fique ameaçada nas temporadas primavera-verão.
* Carlos Cogoy é jornalista, editor de "Cultura" do jornal Diário da Manhã. Professor de Filosofia – Pelotas/RS.
DIÁSPORA AGRESSIVA – O autor contou sobre a origem do livro. Em 1998 estava num táxi em São Paulo, em meio a extenso engarrafamento, quando ouviu no rádio que agentes cubanos haviam sido presos pelo FBI nos EUA. O “faro” jornalístico, como acrescentou, motivou a busca pela história. Numa primeira tentativa de acesso aos dados e documentos, ouviu de autoridades cubanas que se tratava de “informação sensível”. Em 2005, participando de uma Bienal do Livro em Cuba, quando já estava com voo marcado de retorno ao Brasil, soube que o material havia sido liberado. “Naquele momento estava no meio da biografia de Paulo Coelho, e expliquei que não seria possível. Então pedi que guardassem o material. Eles foram fiéis e três anos depois procurei pela história. Em 2008 entreguei os originais da biografia e fui para lá. Durante quase dois anos tive de realizar quinze viagens, indo a Havana, Miami e Nova York”, explica. Contextualizando, o escritor mencionou a crise cubana com o fim da União Soviética. “O PIB desabou da noite para o dia, os acordos perderam a validade. Como salvação, o turismo possibilitando a chegada imediata de recursos. Com isso, o dinossauro sai do coma e a economia se restabelece. Porém, na Flórida reside um milhão de cubanos. Os exilados formam uma diáspora agressiva, formada por torturadores, proxenetas, também aqueles que tiveram indústrias expropriadas sem qualquer indenização, e até alguns que divergem de forma ‘consciente’. Eles decidiram que o turismo deveria ser atacado. E foram contratando mercenários para minar o ‘boom’ econômico, com ataques a aviões, casas de espetáculos, vans e hotéis”, ressaltou Morais.
RESISTÊNCIA – 14 agentes cubanos, integrando a “Rede Vespa”, foram infiltrados entre os grupos de exilados. Doze homens e duas mulheres, que não se conheciam nem sabiam sobre as missões. Entre eles, diplomata e oficiais militares. Para legitimar a chegada a Miami, protagonizavam deserções como o abandono de missão diplomática ou fuga em avião militar. Nos EUA eram ovacionados, e a imprensa dos exilados estampava que a revolução havia acabado. O aspecto dramático, disse Morais, é que nem as famílias dos agentes sabiam sobre o trabalho. Assim, familiares eram apontados na rua. Os filhos ouviam que o pai era traidor. O orçamento da Rede Vespa era de apenas duzentos mil dólares, portanto muito aquém do glamour de filmes como James Bond. Na Flórida, os agentes residiam em quitinetes e tinham de trabalhar. Como curiosidade, um ex-comandante de coluna com blindados na Guerra de Angola que, em Miami, ensinava salsa à comunidade gay. Outro comandante de jato da força aérea cubana, transformou-se em personal trainer de milionários, trabalhando nos bairros chiques. Um dos agentes, para reforçar a fachada, chegou a casar nos EUA.
OVO DA SERPENTE – Entre os trinta mil documentos e informações enviados pelos agentes cubanos, estavam as indicações sobre os mercenários com explosivos na tevê e calçados. Pouco tempo depois, numa operação da Swat durante a madrugada, houve a prisão de dez agentes. Escaparam três que não estavam em casa, e um que conseguiu voltar à ilha. Do grupo preso, cinco beneficiaram-se da “delação premiada”. Os outros cinco resistiram, sendo que quatro receberam prisão perpétua. Num caso, disse Morais, a condenação foi de duas prisões perpetuas e mais quinze anos. “Como não havia canal de contato entre Cuba e os EUA, Fidel contou com o Nobel de literatura Garcia Marquez. O escritor colombiano estava em Cuba, reunindo anotações para escrever artigo sobre a visita do Papa. Como posteriormente iria participar de evento em Princepton nos EUA, Fidel solicitou que entregasse dossiê ao então presidente Clinton. Ali constavam nomes, endereços e descrição dos terroristas que estavam financiando atentados. O último parágrafo, escrito por Fidel, chega a ser profético. Alertava que a desenvoltura de ação dos grupos, no momento ameaçava Cuba, mas no futuro poderia ser problema para os americanos. Isto aconteceu três anos antes dos atentados de 11 de setembro. E na Flórida é que estavam os terroristas da Al Qaeda. Ali aprenderam a lidar com explosivos e pilotar aviões. Consegui inserir no livro esse trecho de Fidel. Mas antes tive de pedir ajuda para Frei Betto, Ricardo Kotscho e até Hugo Chávez, pois não era simples o acesso ao dossiê”, mencionou. Morais acrescenta que os agentes cubanos receberam a solidariedade de afro-descendentes nas prisões americanas. Como Cuba havia lutado em Angola, contra o então Apartheid e inimigos patrocinados pela Cia., os afro-americanos – maioria nas prisões -, reconheceram o povo que apoiou negros na África. No livro também consta longa entrevista com ‘mercenário’ preso em Havana. Para o contato, Morais também recorreu ao apoio de nomes como Chávez. No relato do mercenário, a revelação de que não se dispôs ao risco, pelo valor de 1.500 dólares, tampouco convicção ideológica. A motivação é que havia assistido a filmes de Sylvester Stallone; daí procurou reproduzir a violência da ficção.
FBI – Para informações nos EUA, apoio de jornalista do New York Times. O jornalista americano havia feito reportagens sobre os grupos de exilados cubanos da Flórida. Como retaliação, casa havia sido metralhada, os freios do carro foram cortados – ocasionou acidente -, e recebeu telefonemas com ameaças. O FBI também colaborou com o autor brasileiro, porém as declarações ficaram em “off”.
CUBA – Morais ouve que é “fóssil”, que Cuba não deu certo, enfim, as críticas recorrentes. Ele reconhece que há “problemas, sendo necessário corrigir erros”, mas rebate citando frase de João Paulo II, que está quase apagada num outdoor perto do aeroporto José Martí em Havana: “Nessa noite duzentas milhões de crianças vão dormir na rua, nenhuma delas é cubana”. E o autor destaca o recente desempenho no Pan-Americano. Mesmo há décadas sofrendo pesado bloqueio econômico, o que acarreta inúmeras limitações, atletas cubanos ficaram atrás – ranking de medalhas – apenas dos EUA. Além disso, destaca a solidariedade dos 22 mil médicos cubanos que estão na Venezuela, residindo em favelas. Morais frisa que não há analfabetos e o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), é comparável a países desenvolvidos. A exemplo, 4,5 óbitos a cada mil nascimentos. No Brasil é 22 a cada mil, nos EUA são oito. Conforme a UNESCO, da fronteira sul dos EUA até Pólo Sul, somente Cuba eliminou a desnutrição infantil. Recentemente Cuba permitiu a compra e venda de imóveis, limitando ao máximo de duas propriedades a cada cidadão.
Imprensa, livros, Internet e filmes
Fernando Morais respondeu várias questões do público. Em relação ao jornalismo: “A imprensa virou partido político. A exemplo, discrepâncias como tratar Médici – provavelmente o mais violento líder político da história brasileira -, como ex-presidente, enquanto Hugo Chávez é chamado de ditador. E Chávez, no entanto, tem sido reeleito nas urnas pela maioria do povo venezuelano. Mas lentamente, com o aumento de cursos universitários no País, tem aumentado o senso crítico da população. O que gosto de frisar em relação à imprensa, é que a honestidade é que costuma dar certo”. E comparou o Brasil com os EUA. Enquanto no Brasil, mesmo grupo pode ser proprietário de jornal impresso e veículos eletrônicos, nos EUA isto não é permitido. Outra comparação, refere-se à programação em “rede”. Para o jornalista, no Brasil as redes baseiam-se no “Morumbi way of life ou Ipanema of lyfe”, desconsiderando as peculiaridades do País. Já nos EUA, 80% da programação de uma rede deve ser regional. Como jornalista, Morais já realizou três entrevistas com Fidel Castro.
LIVROS – Há trinta anos, Morais vive de direito autoral. Dos dez livros publicados, seis estão comercializados para cinema. Sua meta é consolidar carreira internacional. Assim, livro “A Ilha” foi publicado em quatro países. “Olga” está em vinte países. Já “O Mago” chegou a 41 países. Nos planos, biografia de Antônio Carlos Magalhães (ACM). O autor disse que não tem pressa para publicar, pois durante nove anos realizou entrevistas com o líder baiano. Trata-se de material exclusivo. Com Lula, esta negociando a possibilidade de uma biografia. Outra possível publicação seria a biografia de Darcy Ribeiro. Durante dois anos, quando Morais foi secretário da Cultura de São Paulo, conviveu diretamente com o antropólogo. Darcy Ribeiro concebeu o Memorial da América Latina, posteriormente desenhado por Niemeyer. Na pauta também livro sobre o possível assassinato do ex-presidente João Goulart. Ex-agente da polícia uruguaia, preso em Charqueadas, garante que a morte foi ação da então Operação Condor.
INTERNET – “É a maior revolução da humanidade, e está apenas no começo. Hoje, qualquer um tendo computador e celular, pode virar Roberto Marinho. Divulga material e ainda vende espaço. Na Internet, a vantagem é a imagem em movimento. Como exemplo, a morte de Khadaffi. As imagens de um celular foram disputadas pelas grandes redes. O futuro do impresso será a opinião e grandes reportagens, elaboradas durante dois meses”, afirmou. Em Macaé no Rio de Janeiro, o sistema Wi-Fi é oferecido a toda cidade. Logo essa disponibilidade de acesso à Internet, estará em todo País.
CINEMA – Investidor paulista adquiriu direitos do livro “Os últimos soldados da Guerra Fria”. Ainda é prematuro mas há chance de Oliver Stone dirigir o filme. Como dica, Morais recomenda documentários de Michel Moore. “Não sou anti-americano, mas ele mostra que o capitalismo só é bom para quem tem dinheiro. É o que eles chamam de oportunidades”, conclui.
Falas na abertura
Lauro Borges (IMA), e João Alberto (BPP), manifestaram-se na abertura da “Conversa sobre livros” no sábado. Na sequência, jornalista Pablo Rodrigues ressaltou que a Feira do Livro deve oferecer espaço ao debate. E frisou o quanto a abordagem dos autores, é capaz de marcar o público. Professora Maria de Fátima Ribeiro, diretora da Campus da Unipampa em Jaguarão, abordou sobre a “Carta da Fronteira”, que visa aproximar culturalmente Brasil e Uruguai. Já o prof. Gilnei Oleiro (IF-Sul), lembrou da Feira do Livro de 2000, quando houve agenda de debates, reunindo autores. Também citou a enigmática “Estética do Frio” – teoria cuja validade talvez fique ameaçada nas temporadas primavera-verão.
* Carlos Cogoy é jornalista, editor de "Cultura" do jornal Diário da Manhã. Professor de Filosofia – Pelotas/RS.
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