sexta-feira, 27 de maio de 2011

quinta-feira, 26 de maio de 2011

Seminário Memórias em Movimento: Um passo à frente na construção da memória do M.E. gaúcho

Nos dias 13, 14 e 15 de abril, realizou-se em Pelotas o “Seminário Memórias em Movimento: Juventude, Cultura e Política”, que marcou o lançamento para a comunidade do projeto que nós, como Instituto Mário Alves, desenvolveremos nos próximos dois anos, como instituição da rede de Pontos de Cultura do MINC, em parceria com a FURG.

Tal projeto, intitulado “Memórias do Movimento Estudantil Gaúcho no Período da Redemocratização – 1977/1985: Juventude, Cultura e Política” irá reconstruir, através de pesquisa em documentos da época e de entrevistas com militantes e dirigentes do ME no RS, a história daquele período, que marcou a rearticulação do movimento após a brutal repressão que sofreram as entidades estudantis nos primeiros anos da ditadura militar. Estas mobilizações, aliadas às greves iniciadas no ABC paulista e aos movimentos populares que exigiam melhores condições de vida, contribuíram fortemente para as grandes mobilizações populares que agitaram o país entre o final dos anos 70 e início dos anos 80 e que culminou com o fim dos governos militares, em 1985.

Desta forma, o Seminário foi pensado como um momento de reflexão inicial para aqueles que estão mais diretamente ligados ao projeto e para todos os interessados neste debate, além de marcar o primeiro momento de diálogo com a comunidade, que é uma das propostas estruturantes do projeto, prevendo ao longo de sua duração, a realização de oficinas, mostras culturais e debates em locais públicos de Pelotas e de outros municípios da região.

Durante o Seminário realizamos seis mesas de debates que contaram com a participação de 17 painelistas, além de uma mostra de trabalhos acadêmicos e de relatos de experiência sobre o tema e, na noite de encerramento, uma apresentação musical do cantador Pedro Munhoz e a exibição do documentário Cio da Terra, apresentado pela primeira vez na região Sul do Estado e que reconstitui os passos do festival realizado pela UEE em 1982, em Caxias do Sul.

O Seminário, realizado no auditório do Colégio São José, contou com a presença de mais de cem pessoas, sendo que tivemos a participação de militantes do ME de outras cidades, como Rio Grande, Porto Alegre e Santa Cruz do Sul.

Em relação aos temas discutidos entre os painelistas e o público presente, podemos destacar a historia de lutas da juventude brasileira, que participou de momentos vitais da história do país, como a campanha “O Petróleo é Nosso” e a Campanha da Legalidade; a trajetória da UNE; as diferentes concepções táticas e estratégicas das diversas correntes estudantis que atuavam no período; a importância da cultura para a disputa de um projeto democrático de sociedade e as lutas que marcaram a reconstrução do ME no RS e no Brasil, além de diversas outras questões.

Assim, o Seminário alcançou seus objetivos principais, ao levantar uma série de elementos que irão contribuir para a construção do projeto durante sua execução e também ao permitir a troca de experiências entre militantes daquele período e aqueles que hoje colocam-se a tarefa de construir um movimento coletivo em uma sociedade que cada vez mais apela para o individualismo.

O desafio está lançado, muita história há para ser contada e registrada sobre um rico período de lutas e conquistas do povo brasileiro. Boa sorte para todos nós!

(Coletivo do Instituto Mário Alves)

terça-feira, 24 de maio de 2011

Exposição "A juventude em movimento”

Dentro da programação da I Jornada de Estudos sobre Ditaduras e Direitos Humanos, aconteceu a exposição “A Juventude em Movimento - Rio Grande do Sul - décadas de 1970 e 1980", que foi exibida no Arquivo Público do RS.

Confira algumas fotos da mostra:



Fotos: Alessandra Gasparotto

quarta-feira, 4 de maio de 2011

Seminário Memórias em Movimento (vídeo)

O Seminário Memórias em Movimento, realizado de 13 a 15 de abril, em Pelotas/RS, lançou o projeto "Memória do Movimento Estudantil Universitário Gaúcho no Período da Redemocratização - 1977/1985: Juventude, Cultura e Política", mais recente Ponto de Cultura da cidade.

O vídeo traz imagens dos três dias de Seminário e cenas retiradas do Arquivo Nacional, Acervo TVE-REDE BRASIL e do filme "Manhã Cinzenta" de 1969 de Olney São Paulo.

Música: "El Derecho de Vivir en Paz" de Víctor Jara.

domingo, 1 de maio de 2011

125 anos de 1º de Maio - Salve a classe trabalhadora!


Era ele que erguia casas
Onde antes só havia chão.
Como um pássaro sem asas
Ele subia com as casas
Que lhe brotavam da mão.
Mas tudo desconhecia
De sua grande missão:
Não sabia, por exemplo
Que a casa de um homem é um templo
Um templo sem religião


Como tampouco sabia
Que a casa que ele fazia
Sendo a sua liberdade
Era a sua escravidão.

De fato, como podia
Um operário em construção
Compreender por que um tijolo
Valia mais do que um pão?
Tijolos ele empilhava
Com pá, cimento e esquadria
Quanto ao pão, ele o comia...
Mas fosse comer tijolo!


E assim o operário ia
Com suor e com cimento
Erguendo uma casa aqui
Adiante um apartamento
Além uma igreja, à frente
Um quartel e uma prisão:
Prisão de que sofreria
Não fosse, eventualmente
Um operário em construção.

Mas ele desconhecia
Esse fato extraordinário:
Que o operário faz a coisa
E a coisa faz o operário.


De forma que, certo dia
À mesa, ao cortar o pão
O operário foi tomado
De uma súbita emoção
Ao constatar assombrado
Que tudo naquela mesa
- Garrafa, prato, facão -
Era ele quem os fazia
Ele, um humilde operário,
Um operário em construção.
Olhou em torno: gamela
Banco, enxerga, caldeirão
Vidro, parede, janela
Casa, cidade, nação!


Tudo, tudo o que existia
Era ele quem o fazia
Ele, um humilde operário
Um operário que sabia
Exercer a profissão.

Ah, homens de pensamento
Não sabereis nunca o quanto
Aquele humilde operário
Soube naquele momento!
Naquela casa vazia
Que ele mesmo levantara
Um mundo novo nascia
De que sequer suspeitava.


O operário emocionado
Olhou sua própria mão
Sua rude mão de operário
De operário em construção
E olhando bem para ela
Teve um segundo a impressão
De que não havia no mundo
Coisa que fosse mais bela.

Foi dentro da compreensão
Desse instante solitário
Que, tal sua construção
Cresceu também o operário.
Cresceu em alto e profundo
Em largo e no coração
E como tudo que cresce
Ele não cresceu em vão
Pois além do que sabia
- Exercer a profissão -
O operário adquiriu
Uma nova dimensão:
A dimensão da poesia.


E um fato novo se viu
Que a todos admirava:
O que o operário dizia
Outro operário escutava.

E foi assim que o operário
Do edifício em construção
Que sempre dizia sim
Começou a dizer não.
E aprendeu a notar coisas
A que não dava atenção:

Notou que sua marmita
Era o prato do patrão
Que sua cerveja preta
Era o uísque do patrão
Que seu macacão de zuarte
Era o terno do patrão
Que o casebre onde morava
Era a mansão do patrão
Que seus dois pés andarilhos
Eram as rodas do patrão
Que a dureza do seu dia
Era a noite do patrão
Que sua imensa fadiga
Era amiga do patrão.


E o operário disse: Não!
E o operário fez-se forte
Na sua resolução.

Como era de se esperar
As bocas da delação
Começaram a dizer coisas
Aos ouvidos do patrão.
Mas o patrão não queria
Nenhuma preocupação
- "Convençam-no" do contrário -
Disse ele sobre o operário
E ao dizer isso sorria.

Dia seguinte, o operário
Ao sair da construção
Viu-se súbito cercado
Dos homens da delação
E sofreu, por destinado
Sua primeira agressão.


Teve seu rosto cuspido
Teve seu braço quebrado
Mas quando foi perguntado
O operário disse: Não!

Em vão sofrera o operário
Sua primeira agressão
Muitas outras se seguiram
Muitas outras seguirão.
Porém, por imprescindível
Ao edifício em construção
Seu trabalho prosseguia
E todo o seu sofrimento
Misturava-se ao cimento
Da construção que crescia.

Sentindo que a violência
Não dobraria o operário
Um dia tentou o patrão
Dobrá-lo de modo vário.


De sorte que o foi levando
Ao alto da construção
E num momento de tempo
Mostrou-lhe toda a região
E apontando-a ao operário
Fez-lhe esta declaração:
- Dar-te-ei todo esse poder
E a sua satisfação
Porque a mim me foi entregue
E dou-o a quem bem quiser.
Dou-te tempo de lazer
Dou-te tempo de mulher.
Portanto, tudo o que vês
Será teu se me adorares
E, ainda mais, se abandonares
O que te faz dizer não.


Disse, e fitou o operário
Que olhava e que refletia
Mas o que via o operário
O patrão nunca veria.
O operário via as casas
E dentro das estruturas
Via coisas, objetos
Produtos, manufaturas.
Via tudo o que fazia
O lucro do seu patrão
E em cada coisa que via
Misteriosamente havia
A marca de sua mão.
E o operário disse: Não!

- Loucura! - gritou o patrão
Não vês o que te dou eu?
- Mentira! - disse o operário
Não podes dar-me o que é meu.


E um grande silêncio fez-se
Dentro do seu coração
Um silêncio de martírios
Um silêncio de prisão.
Um silêncio povoado
De pedidos de perdão
Um silêncio apavorado
Com o medo em solidão.

Um silêncio de torturas
E gritos de maldição
Um silêncio de fraturas
A se arrastarem no chão.
E o operário ouviu a voz
De todos os seus irmãos
Os seus irmãos que morreram
Por outros que viverão.
Uma esperança sincera
Cresceu no seu coração
E dentro da tarde mansa
Agigantou-se a razão
De um homem pobre e esquecido
Razão porém que fizera
Em operário construído
O operário em construção.

(Vinícius de Moraes)