segunda-feira, 28 de maio de 2012

Memórias de uma guerra suja



OBSERVATÓRIO DA IMPRENSA - Um livro para não ficar fechado nem esquecido. Um tremendo safanão naqueles que acham que a Comissão da Verdade é inútil e o passado, passou.

"Memórias de uma guerra suja" é a confissão de um carrasco a serviço da repressão política - Cláudio Guerra, ex-delegado do Dops - a dois jornalistas experimentados, Marcelo Netto e Rogério Medeiros. Um documento cuja veracidade ainda precisa ser comprovada. Porém, mesmo que seja inventado no todo ou em parte, é uma pauta minuciosa, mapa da casa de horrores para ser seguido, verificado e chorado.
Trata-se de um dos relatórios mais tenebrosos já aparecidos sobre o período final do regime militar, quando a linha dura manifestava tanto ódio à distensão prometida pelo general Geisel quanto àqueles que pegaram em armas contra o regime militar.

Deste livro sai um Brasil irreconhecível que só se reconhecerá quando for devidamente apurado o que está contado com tantos detalhes neste livro terrível. É possível que a prioridade da Comissão da Verdade seja desvendar o que aconteceu com os desaparecidos. Mas os corpos incinerados por Cláudio Guerra numa usina de açúcar em Campos, Estado do Rio, jamais serão resgatados. Cabe a nós e a todos os buscadores da verdade o resgate de suas histórias.




quarta-feira, 23 de maio de 2012

IMA traz debate com Cesare Battisti em Pelotas




No próximo dia 14 de junho, às 19h na Câmara Municipal, Cesare Battisti participará de uma programação organizada pelo Instituto Mário Alves. Em breve, mais informações.


Confira a matéria escrita pelo jornalista Carlos Cogoy sobre o livro "Minha fuga sem fim", publicada no Diário da Manhã, de Pelotas.

Foto: Divulgação

Resistindo ao fascismo, stalinismo e liberais

 No último dia de 2010, o então presidente Luiz Inácio Lula da Silva decidiu não conceder extradição ao ex-ativista de esquerda italiano Cesare Battisti. De imediato, vozes conservadoras criticaram a decisão. No tom reacionário, alegações de que se tratava de um “terrorista, assassino, monstro sanguinário”. Mas, a pretensa ameaça aos que se dão bem na injusta realidade brasileira, porém, não se encaixa no perfil pacato do autor de quase duas dezenas de livros. A explicação é simples. Ofensiva da grande mídia, transformou Battisti no inimigo necessário e estratégico, simbolizando a queda de uma era, os escombros da utopia. Essa imagem foi tecida com base em sucessivas safadezas jurídicas. Num processo à revelia, sem provas, ele foi julgado à prisão perpétua na Itália. Como acusação, quatro assassinatos na ebulição política dos anos setenta. Denunciado por ex-companheiros de militância política que, com base nos estatuto dos arrependidos, atenuavam pena ou até conquistavam a liberdade, Battisti já exilado no México, foi o “bode expiatório” para satisfazer fascistas e stalinistas – o PCI à época rejeitava a juventude que renovava a esquerda, tirando a poeira do dogmatismo. Na França, anos noventa, mulher, filhas, atividades como zelador e escritor. Como autor de romances policiais, juridicamente acolhido na era Mitterrand, Battisti encontrara equilíbrio para refazer planos. Como autor, estava conquistando mais leitores, consolidando-se na literatura. Porém, em 2004, no governo Chirac, o inesperado. O poder jurídico francês cedera à pressão política. O judiciário curva-se a interesses dos governos francês e italiano.  Battisti prestes a ser extraditado, trata de fugir pelos subterrâneos de Paris. Inicia-se caçada, numa série de aventuras, diferentes países, personagens, receios e solidão. Nos romances publicados no Brasil, ele reitera a pergunta: “Por que eu?”. Para conhecer a trajetória de Battisti que, em junho estará em Pelotas – promoção do Instituto Mário Alves (IMA) - leitura essencial é o excelente romance autobiográfico “Minha fuga sem fim” (285 páginas) – publicado pela Martins Fontes em 2007.


            INOCENTE? – O prefácio é do filósofo e humanista Bernard-Henri Lévy. Em “Por que o defendo”, Lévy que está longe de ser identificado como pensador de esquerda, evoca a necessidade de justiça. Trecho: “E a primeira dessas precauções não seria ouvir, apenas ouvir, primeiro através deste livro, depois no recinto de um tribunal ante o qual ele comparecesse em pessoa, as palavras daquele que, diante dessas terríveis acusações, não cessa de repetir: ‘pois então, aí é que está... eu fui membro de um grupo armado... recorri à violência... mas acontece que, mat ar, matar mesmo com as minhas próprias mãos, isso não, isso eu nunca fiz...’?”.

           

VIDA NEGOCIADA – Após catorze anos na França, guinada jurídica em 2004. O governo Chirac, que já havia sido alvo de atentado em 2002, endurecera com os refugiados. E a 10 de fevereiro de 2004, Battisti é preso no prédio que residia e trabalhava como zelador. Houve comoção nacional, grupos de apoio, manifestações públicas e a conquista da liberdade a 3 de março. Mas a 30 de junho ainda haveria o veredicto da Câmara de Instrução da Corte de Apelação de Paris. E o resultado foi a extradição. Em capítulos como “A captura”, “A prisão”, “O cerco” e “A evasão”, que integram “Será assim que os homens julgam?” – primeira parte do livro -, o autor revela seu talento literário. Ele narra sobre os vizinhos do prédio que vivia, a solidão, medo e personagens do cotidiano na prisão, o poder da mídia, a solidariedade de amigos e anônimos, a postura dos magistrados e promotores nos tribunais, a euforia com a liberdade, a perseguição e fuga. Sua vida havia sido negociada. Alguns dias após o veredicto na França pela extradição, jornal italiano revelava o teor do acordo com a Itália. “Segundo o redator, em troca de uma opinião favorável da Corte, a Itália estava assinando um acordo para a linha Lyon-Turim do trem-bala, prometia uma participação na compra dos Airbus e um ‘sim’ ao novo Tratado Constitucional Europeu”, escreve Battisti.


Contraponto de Battisti aos quatro assassinatos

            A 9 de maio de 1978 quando o primeiro-ministro italiano Aldo Moro, foi assassinado pelas Brigadas Vermelhas, Cesare Battisti chocou-se e abdicou da luta armada como ação política. Ainda integrante dos Proletários Armados para o Comunismo (PAC) – grupo idealizado por Pietro Mutti em 1976 e dissolvido em 1979 -, que se contrapunha a prática “centralista” e stalinista do Partido Comunista Italiano (PCI), Battisti relata que o grupo havia deliberado “sim à defesa armada, mas não aos atentados que acarretassem morte humana”. No romance autobiográfico, conta que nem as armas que dispunham, estavam em condições: “Num primeiro momento, os membros dos PAC foram os queridinhos das mamães dos bairros mais carentes. Quanto às armas, permaneciam nos esconderijos. Só as pegávamos quando nos provocavam ao extremo. Duas em cada três não funcionavam, era uma sorte os tiras não desconfiarem”.

            PCI – Para contextualizar o ambiente ideológico dos anos setenta, Battisti menciona o PCI como retrógrado, autoritário e em regozijo com as migalhas do poder – não muito diferente do que se observa no Brasil. Ao invés do pragmático Stálin (1878/1953), a jovem esquerda italiana estava empolgada com as ideias de Marcuse, Sartre, Foucault, Deleuze, Gattari, Baudrillard e Horkheimer – “galera” que demorou a ser digerida por aqui. Os PAC, portanto, não obedeciam ao formato “partido” ou centralista. Ao contrário, espraiavam-se através de núcleos. Tal dinâmica, no futuro, turvaria a investigação acerca da autoria de quatro homicídios.

            ACUSAÇÕES – Como reação à morte de Aldo Moro, a Cia. participou diretamente da operação para desmantelar os grupos de esquerda. Houve inúmeros interrogatórios, prisões, torturas e delações. Em junho de 78, é assassinado o guarda penitenciário Antonio Santoro. Battisti deixa os PAC ao final daquele ano. Meses após, em 16 de fevereiro de 79 é morto o joalheiro Pierluggi Torregiani em Milão. No mesmo dia, em Caltana Santa Maria de Sala no Vêneto, é morto o açougueiro Lino Sabbadin – integrante do partido neofascista MSI. O quarto homicídio, reivindicado pelos PAC, é do policial Andrea Campagna e ocorreu a 19 de abril de 1979 em Milão.

            PRISÃO de Battisti - quando já havia deixado os PAC, acontece em junho de 79. Clandestino, vivia num apartamento em Milão. Durante interrogatórios e investigações, jamais foi lhe atribuída autoria de alguns dos quatro assassinatos. Ele estava preso porque havia pertencido ao grupo armado. Em 1981, assustado com a violência da repressão que, tanto destruía emocionalmente os presos quanto provocava sumiços de detentos, Battisti trata de planejar a fuga. Com ajuda de Pietro Mutti e seu novo grupo COLP, consegue evadir e segue para Paris. Após um ano como clandestino, ruma para o México, onde permaneceu até o fim dos anos oitenta.

            DEFESA – Em 1982 acontece a prisão de Mutti e integrantes dos COLP. Interrogados sobre os assassinatos, atribuem a Battisti a autoria. Consta que, antes de delação, tratava-se de estratégia para ganhar tempo, já que Battisti estava foragido e no exterior. Porém, diante da iminência de prisão perpétua, Mutti joga a responsabilidade para Battisti. Com isso, baseando-se em recursos como o estatuto dos arrependidos e “dissociados”, após nove anos ele consegue a liberdade. À revelia e sem provas, Battisti é condenado à prisão perpétua na Itália. Ele defende-se, alegando a “contumácia” – não estava ciente do processo. Além disso, indica inúmeras contradições n as acusações. No caso Santoro, Mutti à época é que estava sendo acusado pelos departamentos de polícia de Milão e carabineiros de Udine. Acusando Battisti, safou-se, tornando-se apenas “cúmplice”. Em relação às mortes do joalheiro Torregiani e do açougueiro Sabbadin, Battisti menciona que desconhece a localização da aldeia deste no Vêneto. O autor confesso foi Giacomin – chefe da ala vêneta dos PAC. Já a morte do joalheiro foi autoria do comando que reunia Massala, Fatone, Grimaldi e Memeo. Coube a Battisti, por conta de Mutti, uma acusação de cumplicidade. Já o policial Campagna em 1979, que teria participado de torturas aos acusados do caso Torregiani, conforme testemunhas, foi morto por “louro” barbudo de 1,90m, perfil que destoa do moreno Battisti de 1,70m. Além disso, familiares das vítimas foram coagidos a identificar Battisti como autor. Balísticas mostraram que não foram usadas as armas que estavam no apartamento de Battisti em Milã o. Ele, bem antes das três últimas mortes, já havia recusado a luta armada e saído dos PAC. Em relação a cartas subscritas, assinadas por Battisti, exames grafológicos comprovaram a autenticidade da identificação mas não do conteúdo. O material foi forjado para mostrar que ele estaria ciente da acusação. No livro, Battisti cita que era praxe à época, deixar papéis assinados, visando posterior necessidade da defesa. Mas os papéis, assinados no mesmo dia, conforme a grafologia, estavam em branco. Como estratégia da acusação, foram sendo toscamente preenchidos para assegurar de que ele estaria ciente dos processos.


Diário de um cão errante

            O romance “Minha fuga sem fim” apresenta prefácio à edição brasileira, e está dividido em duas partes: “Será assim que os homens julgam?”; “Diário de um cão errante”. O posfácio é autoria da escritora Fred Vargas.

            Cláudia, Quem para está perdido, Igouf Ernest, Karine, O talismã e Não aprendia a dizer adeus, são capítulos que integram a segunda parte “Diário de um cão errante”. Recorrendo a terceira pessoa, Battisti mescla ficção e realidade para narrar sobre as situações inusitadas durante a fuga. As viagens, o constante receio de ser preso, a carola sensual, a prostituta nórdica, o sábio etíope. A chegada ao País das novelas, futebol e miséria.

            HISTÓRIA – Battisti nasceu em Sermoneta na Itália em 1954. Filho de pai comunista e mãe católica, desafiava o retrato de Stálin pendurado na sala. “Eu não tinha ainda dez anos e já berrava, no alto-falante do carro dele: ‘Governo ladrão ou ratos fascistas, o lugar de vocês é no esgoto’”, escreve sobre a infância.

            LIVROS publicados no Brasil: Minha fuga sem fim (2007); Ser Bambu (2010); Ao Pé do Muro (2011) – será lançado em Pelotas. Obras do selo ‘Martins’ da editora Martins Fontes.

domingo, 13 de maio de 2012

Construção do Comitê da Verdade em Pelotas começa amanhã


O Instituto Mário Alves é um dos idealizadores do Comitê da Verdade em Pelotas. As discussões começarão a partir de amanhã (14) e todos aqueles que buscam justiça estão convidados a essa construção!



Carta à Sociedade:

Prezad@s:

                Nos último meses temos acompanhado um aumento nas discussões e nas mobilizações sociais em torno da apuração das graves violações aos direitos humanos cometidas durante a ditadura civil-militar no Brasil (1964-1985), especialmente a partir da criação da Comissão Nacional da Verdade, em dezembro de 2011.

Parte destas discussões tem sido fomentadas a partir da criação de Comitês locais, que visam fortalecer as investigações da Comissão da Verdade e ampliar o debate público em torno do tema. Há comitês sendo criados em diferentes estados, e algumas entidades e centrais sindicais, como a CUT e a CONLUTAS, já manifestaram interesse em participar deste movimento.

              Neste sentido, estamos nos mobilizando para criarmos um Comitê da Verdade em Pelotas, a exemplo do que ocorre em outros municípios do Estado, como Porto Alegre e Santa Maria.

                CONVIDAMOS, então, todas as pessoas, entidades e coletivos interessados para uma reunião para a construção deste Comitê em Pelotas, que será realizada na próxima segunda-feira, dia 14 de maio, às 17h30min, na Sede do Sindicato dos Bancários de Pelotas e Região (Rua Tiradentes, 3087 - Centro).
Contamos com a sua participação!

Atenciosamente,
Coletivo pró-instalação do Comitê da Verdade de Pelotas

quarta-feira, 9 de maio de 2012

IMA comemora seus 11 anos com jantar neste mês



O IMA comemora 11 anos neste mês e você é convidado para estar presente neste momento importante de mais uma etapa vencida, no resgate à memória das lutas políticas e na construção da transformação social.

No próximo dia 18, o IMA estará oferecendo um jantar de confraternização, seguido de bingo. Na ocasião, será apresentada oficialmente a nova logomarca do Instituto e as apresentações dos projetos que o IMA tem desenvolvido e está trabalhando atualmente.

Ingressos limitados a R$ 15,00 podem ser adquiridos no IMA (Andrade Neves, 821 - Fone: 3025 7241) ou através dos telefones: Lauro 9113-1116, Mana 8124-7554, Janaína 8124-2414 e Juliana 8438-1998.

Instituto Mário Alves - 11 anos de histórias, resgates e construção social!

quarta-feira, 2 de maio de 2012

IMA apóia a luta doa trabalhadores


O Instituto Mário Alves esteve presente no “1º de Maio”, organizado por sindicatos e movimentos sociais de Pelotas, no dia do Trabalhador, no Parque Dom Antonio Zattera.

(Foto: Roger Peres)

No apoio à luta dos trabalhadores, colaboradores do IMA estiveram juntos com a diversidade de movimentos e lutas presentes no Encontro histórico do Dia do Trabalhador. O Momento contou com temas como:

- Contra a desindustrialização
- Na defesa do emprego decente
- Pagamento do piso aos professores municipais e estaduais sem mexer no plano de carreira
- Redução da jornada de 44 para 40 horas semanais
- Ratificação da Convenção 151
- Contra o Fator Previdenciário
- Contra a Previdência complementar
- Pela Reforma Agrária
- Apuração e punição dos assassinos de Jair e Elton 

Críticas quanto à propaganda enganosa do poder público aos  "200 anos de Pelotas", apresentações artísticas de bandas locais, mateada e participações de entidades e organizações também se fizeram presentes no encontro.


Dia do Trabalhador é todo dia



Por Guilherme de Oliveira

É em um momento histórico que hoje se reivindica o Dia do Trabalhador. Na verdade, todos os dias são dos trabalhadores, daqueles que constroem e mantém as escolas e as universidades que estudamos, que limpam as ruas que caminhamos, que dirigem o transporte que nos locomovemos, que nos tratam quando estamos doentes… Se pegarmos a história da humanidade, não houve um dia que ela tenha conseguido evoluir sem a participação de um trabalhador. Entre ascensos e refluxos, a classe trabalhadora vive não um dia, mas um momento de transformações que abre as portas para novas lutas e novas conquistas.



Foi através de uma mobilização pela jornada de trabalho de oito horas ocorrida em Chicago, em 1886, que logo no ano de 1889 foi constituído o dia 1 de maio como dia internacional dos trabalhadores. Também em Chicago o emigrante austríaco Friedrich Von Hayek, economista e filósofo, formou gerações de economistas monetaristas ultra-conservadores como Milton Friedman na Universidade de Chicago. Hayek ensinou aos seus ‘’Chicago Boys’’ que a intervenção do Estado na vida individual ou social coloca o povo na ‘’linha da servidão’’. Ele apresentou a liberdade econômica (o direito de ganhar e usar sua fortuna sem intervenção exterior) sobre o mesmo plano das liberdades políticas ou pessoais duramente conquistadas pelos trabalhadores. É nesta crise de hoje que vemos claramente o fracasso da política dos Chicago Boys e a necessidade de avançar a luta dos trabalhadores para revolução socialista. Os grandes capitalistas do mundo provaram mais uma vez, na crise deflagrada em 2008 que segue até os dias atuais e não tem prazo para acabar, que são verdadeiras bestas que só pensam em lucro e não se importam em condenar 24,5 milhões de homens e mulheres da União Européia ao desemprego, por exemplo. É por estes trabalhadores que hoje estão sendo privados de exercer sua profissão e por todos os outros que mesmo tendo são privados de ter uma vida digna, que a luta clama por avançar e conquistar.

Novas perspectivas, vitórias e derrotas se apresentam para classe trabalhadora. É verdade que os anúncios de cortes, de avanços dos planos de austeridade apontam um futuro nebuloso, mas também é verdade que a luta e a mobilização histórica dos trabalhadores já começa a esboçar algumas respostas. No mesmo Dia do Trabalhador, Evo Morales, Presidente da Bolívia, anunciou a nacionalização da Transportadora de Energia. Essa é uma pauta histórica do povo boliviano que já na década de 50 havia conquistado a nacionalização das mineradoras e a reforma agrária. Os avanços dos mineiros e camponeses bolivianos foram atacados com um covarde golpe militar que destitui o presidente Victor Paz Estenssoro e empossou o assassino René Barrientos.

No mês passado, em abril, o povo argentino também aplicou uma dura derrota aos exploradores ao anunciar a expropriação das ações da distribuidora de gás e petroleira YPF. Tanto a Transportadora de Energia na Bolívia como a YPF argentina estavam nas mãos dos espanhóis que outrora colonizaram estes países e seguem até hoje explorando. As nacionalizações ocorridas são respostas não desta, mas de várias gerações da classe trabalhadora latino-americana contra os colonizadores e exploradores que não permitem sua verdadeira emancipação.

A nacionalização é um avanço que não deve restringir a luta contra a democracia burguesa, que é a melhor forma possível para o desenvolvimento do capitalismo e faz parte dos atuais governos. Como bem descreveu Lenin, depois que o capital se apropria da democracia, através da corrupção, por exemplo, ele exerce o seu poder de forma tão segura que qualquer mudança de partidos, pessoas ou instituições não abalam o seu domínio. Através deste sistema tão elogiado pelos grandes capitalistas, ‘’os trabalhadores de hoje se transformaram em escravos assalariados, em conseqüência da exploração capitalista, e esmagados pela necessidade e pela miséria, não se interessam pela política e, no curso pacifico dos acontecimentos a maioria da população, se encontram afastados da vida político e social’’, afirma Lenin.

Através de influências no governo do aimará Evo Morales ou no governo social-democrata da Cristina Kirchner, o povo tem conquistado algumas vitórias, que são grandes no presente, mas pequenas para o futuro. É preciso a partir delas conquistar também o Estado, o qual segundo Engels, “é o Estado da classe mais poderosa, daquela que domina do ponto de vista econômico e que, graças a ele, se torna também classe politicamente dominante e adquire assim novos meios para esmagar e explorar a classe oprimida’’.  Mesmo derrotada a classe dominante, os trabalhadores ainda tem a necessidade do Estado, só que dessa vez para garantir a democracia para a imensa maioria do povo e reprimir pela força os exploradores. Somente na sociedade comunista, quando a resistência dos capitalistas estiver definitivamente derrotada, que os capitalistas desaparecerão e não haverá mais classes. Essa é a nossa luta, esse é o nosso fim como militantes socialistas.

* Guilherme de Oliveira é presidente do Centro Acadêmico de Comunicação Social da PUCRS e militante do Juntos